sexta-feira, 23 de julho de 2010

A DIFÍCIL NOTA 6 DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA - O Globo

Analistas apontam atraso histórico do país e obstáculos como salário dos professores para se chegar à meta de 2021 no Ideb
 
Catarina Alencastro

BRASÍLIA. Com uma nota atual de 4,6 no Índice de Desenvolvimento da educação Básica (Ideb), o Brasil tem como meta alcançar a nota 6 em 2021. Esse patamar de excelência na qualidade de ensino já foi alcançado pelos países-membros da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) há pelo menos sete anos. Para chegar lá, especialistas ouvidos pelo GLOBO destacam que o ensino Brasileiro ainda tem que melhorar muito, mas reconhecem que a caminhada nessa direção já começou. A tarefa agora será de quem suceder ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Célio da Cunha, consultor da Unesco em educação, crê que o Brasil, por ter relegado a educação a segundo plano, dificilmente poderá cumprir a meta prevista daqui a 11 anos. Segundo ele, enquanto a maioria dos países investiu no ensino no século passado, o Brasil se omitiu: O Brasil só recentemente tratou de corrigir um atraso histórico de não colocar a educação no centro. A preocupação da União com o ensino fundamental é muito recente. Enquanto isso, o povo permaneceu excluído.

É preciso que estados e municípios caminhem em uníssono em direção à meta.
Disparidade entre estados na área piora situação Cunha avalia que ainda não há uma política nacional eficiente, pois alguns estados e municípios estão muito piores do que o restante do país. A disparidade acaba puxando o resultado de todo o Brasil para baixo. Em Bertolina (PI), Pedra Branca do Amapá (AP) e Lagoa da Canoa (AL), por exemplo, o Ideb atingido foi inferior a 2,5 em 2009. Na outra ponta, Aperibé, no Estado do Rio, com pouco mais de 10 mil habitantes, conseguiu a média 6,1.

É preciso haver uma orquestração entre estados, municípios e União. Tínhamos que dividir a responsabilidade. A lei áurea da educação seria a lei da responsabilidade da educação sugere Cunha.

Para o professor Rubem Klein, consultor da Fundação Cesgranrio e membro da Comissão Técnica do Todos pela educação, a mudança na qualidade da educação demanda um processo que leva tempo: Isso não acontece do dia para a noite. Não é só botar mais dinheiro. Tem de melhorar a gestão da escola, identificar os alunos com problema, dar reforço a quem está atrasado. A direção da escola tem que ter liderança pedagógica. Muitos só se preocupam com a merenda.

Além da questão administrativa e burocrática, segundo ele, os diretores devem verificar se os professores estão atendendo às expectativas e ter autonomia para substituir quem estiver aquém. O salário do professor é outro ponto importante, diz. Ele defende a criação de uma nova carreira, com salários atraentes e plano profissional, para que haja promoção por mérito e os mestres passem a ganhar mais.

Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), diz que indicadores de qualidade de ensino como o Ideb e o exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são mecanismos importantes para que as famílias acompanhem os estudos de seus filhos e a sociedade cobre providências dos governantes. Assim como outros especialistas da área, ele acredita que o Brasil esteja pagando o preço do atraso: A Coreia do Sul estava no mesmo patamar do Brasil na década de 1960. De lá para cá, investiu maciçamente em educação.

Hoje, tem uma das melhores notas do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) e é um dos líderes em PIB per capita. Enquanto isso, o Brasil ficou para trás.

O Ideb é medido a cada dois anos. Nas duas últimas edições, o Brasil cumpriu as metas estabelecidas.

Em 2007, superou a meta de 3,9 e atingiu a nota 4,2.

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